Santa Catarina nos trilhos
Responsável por cerca de 8% da movimentação de cargas em Santa Catarina – hoje em 50 milhões de toneladas por ano –, o transporte ferroviário terá 25% de participação quando a Ferrovia Litorânea sair do papel, dentro de oito anos. O primeiro passo foi dado no mês passado, com a assinatura da ordem de serviço do projeto executivo. Basta saber se a burocracia, os entraves ambientais e os cortes no orçamento não vão emperrar o avanço dos trilhos no Estado.
O projeto de interligação dos portos catarinenses pela Ferrovia Litorânea é antigo, assim como a proposta da Ferrovia Leste-Oeste, também conhecida como ferrovia do frango por ligar a produção agroindustrial do Oeste catarinense aos terminais portuários no Litoral. Mas os dois projetos só ganharam contornos reais depois do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
– A lógica do PAC é integrar os vários modais de transporte. Por isso lutamos para incluir estes dois projetos. Conseguimos assinar a ordem de serviço da Litorânea e ampliar o traçado da Leste-Oeste, para chegar à Argentina. O importante é que as ferrovias foram priorizadas – diz a senadora Ideli Salvatti (PT).
Desde 2003, apenas 12% da verba definida no Orçamento foi investida
O setor produtivo e as concessionárias ferroviárias consideram os dois projetos de extrema importância. De acordo com o presidente da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Alcantaro Corrêa, a redução no custo de transportes, que chega a ser de 15% em relação ao transporte rodoviário, vai garantir competitividade às empresas.
– As obras da Litorânea não devem demorar tanto, porque uma vez que o projeto esteja pronto, o que deve ocorrer em dois anos, investidores privados vão se mostrar interessados em participar da obra.
O presidente da Fiesc lamenta que o investimento no modal ferroviário tenha uma enorme defasagem em SC. Desde 2003, pouco mais de 12% do montante definido no Orçamento Geral da União (OGU) foi efetivamente investido em trilhos. Dos R$ 173,3 milhões empenhados, apenas R$ 21,2 milhões foram aplicados em SC.
A América Latina Logística (ALL), maior concessionária ferroviária de SC, vê de modo positivo os projetos. “A criação da Litorânea é um projeto estratégico, que permitirá um salto na logística, possibilitando que a ferrovia acesse todos os portos de escoamento catarinenses”, informou, em nota.
Obras em SC não são unanimidade
Apesar de ser uma reivindicação antiga no Estado, a construção das ferrovias Leste-Oeste e Litorânea não é unanimidade. Há quem defenda que o transporte marítimo/fluvial de carga (também chamado de cabotagem) em SC seja uma alternativa economicamente mais viável e que o traçado da Leste-Oeste é acidentado demais para comportar uma ferrovia.
O economista Antônio Carlos Zapelini, estudioso na área de logística e transporte, lembra que a ideia de unir Florianópolis a Porto Alegre por trilhos é da época do Império e tem mais de 130 anos. Segundo ele, atualmente, a Ferrovia Litorânea não é a alternativa mais viável.
– A navegação de cabotagem é muito mais econômica para interligar os portos. Os dois projetos de ferrovias esbarram na inviabilidade da topografia acidentada do Estado e da alta densidade demográfica por onde passam os traçados, o que gera muito custo com desapropriações. A Litorânea ainda ficará espremida entre o mar e a BR-101. E a Leste-Oeste não deveria passar pelo Vale do Itajaí, muito populoso e acidentado, e sim aproveitar os trilhos já existentes no Planalto Norte – alega.
O presidente da Federação da Empresas Transportadoras de Cargas de SC (Fetrancesc), Pedro Lopes, diz que a preocupação do setor de transportes rodoviário é com o período até a construção efetiva da ferrovia.
Rodovias precisam de atenção até que trilhos fiquem prontos
– O setor não vê problema em dividir cargas, porque o transporte rodoviário será sempre necessário. Defendemos a integração modal, desde que haja planejamento rodoviário, porque temos que nos preocupar com as rodovias, com os acessos aos portos, e com o transporte hoje, até que as ferrovias existam.
Lopes também considera a Leste-Oeste mais urgente do que a Litorânea, exatamente porque a navegação de cabotagem já é operada em SC. Ele lembra que muitos ramais que foram desativados poderiam ser reativados, enquanto na Litorânea está tudo ainda por fazer.
Região Sul não é prioridade
A região Sul é a menos beneficiada com obras ferroviárias previstas no PAC. As prioridades são os projetos da Transnordestina (CE, PE e PI), com investimento de R$ 4,5 bilhões; na Ferrovia Leste-Oeste da Bahia, com aporte de R$ 8 bilhões; e a Norte-Sul, que vai rasgar o país do Maranhão a Goiás, para depois chegar ao Paraná, com recursos da ordem de R$ 8 bilhões.
A Ferrovia Litorânea, cujo investimento fica abaixo de R$ 1 bilhão, está em quarto lugar na lista de prioridades, conforme o diretor executivo da Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça.
– É verdade que os projetos são todos para a próxima década, mas são bastante promissores. Existem problemas burocráticos e até no ambiente político, com parlamentares querendo tirar os trilhos de dentro de suas cidades, mas precisamos desenvolver a logística de transporte do Brasil – afirma.
Concessionárias investiram R$ 30 bilhões em 12 anos
Nos últimos 12 anos, as concessionários de ferrovias do Brasil investiram R$ 30 bilhões, sendo R$ 20 bilhões em equipamentos e melhorias e R$ 10 bilhões em impostos.
– A contrapartida do governo não passou de R$ 900 milhões. Mas precisamos usar a palavra inutilizada do PAC, que é aceleração – diz Vilaça.
O custo por quilômetro de ferrovia é cerca de US$ 1 milhão. Neste contexto, o presidente da ANTF considera a Ferrovia Litorânea de baixa complexidade e custo, perto das demais em obras no país.
Ele destaca ainda que, uma vez o projeto pronto, abre-se a possibilidade da iniciativa privada investir.
Redução de custos é uma das vantagens
Com um crescimento anual de 3% nas cargas transportadas, as rodovias catarinenses não terão, em alguns anos, mais condições de atender esta demanda.
A afirmação é do presidente da Ferrovia Tereza Cristina (FTC), Benony Schmitz Filho, para quem a interligação com os portos por ferrovias seria a única solução possível para atender esta demanda.
– Entre as inúmeras vantagens estão a redução de manutenção nas rodovias, no consumo de combustíveis de, em média, 10 milhões de litros anuais, menos emissão de poluentes e de acidentes nas estradas.
Outros ganhos passam pela redução nos custos de transporte e logística, maior arrecadação para o governo com a redução da evasão fiscal sobre as cargas transportadas e melhoria ambiental, com menos poluição, pelo baixo consumo de combustível.
A FTC será beneficiada pela sua ligação com a malha ferroviária nacional. A maior parte do seu transporte é carvão, mas a empresa já iniciou a movimentação de cargas conteinerizadas para o Porto de Imbituba.
Fonte: Diário Catarinense
O projeto de interligação dos portos catarinenses pela Ferrovia Litorânea é antigo, assim como a proposta da Ferrovia Leste-Oeste, também conhecida como ferrovia do frango por ligar a produção agroindustrial do Oeste catarinense aos terminais portuários no Litoral. Mas os dois projetos só ganharam contornos reais depois do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), do governo federal.
– A lógica do PAC é integrar os vários modais de transporte. Por isso lutamos para incluir estes dois projetos. Conseguimos assinar a ordem de serviço da Litorânea e ampliar o traçado da Leste-Oeste, para chegar à Argentina. O importante é que as ferrovias foram priorizadas – diz a senadora Ideli Salvatti (PT).
Desde 2003, apenas 12% da verba definida no Orçamento foi investida
O setor produtivo e as concessionárias ferroviárias consideram os dois projetos de extrema importância. De acordo com o presidente da Federação das Indústrias de SC (Fiesc), Alcantaro Corrêa, a redução no custo de transportes, que chega a ser de 15% em relação ao transporte rodoviário, vai garantir competitividade às empresas.
– As obras da Litorânea não devem demorar tanto, porque uma vez que o projeto esteja pronto, o que deve ocorrer em dois anos, investidores privados vão se mostrar interessados em participar da obra.
O presidente da Fiesc lamenta que o investimento no modal ferroviário tenha uma enorme defasagem em SC. Desde 2003, pouco mais de 12% do montante definido no Orçamento Geral da União (OGU) foi efetivamente investido em trilhos. Dos R$ 173,3 milhões empenhados, apenas R$ 21,2 milhões foram aplicados em SC.
A América Latina Logística (ALL), maior concessionária ferroviária de SC, vê de modo positivo os projetos. “A criação da Litorânea é um projeto estratégico, que permitirá um salto na logística, possibilitando que a ferrovia acesse todos os portos de escoamento catarinenses”, informou, em nota.
Obras em SC não são unanimidade
Apesar de ser uma reivindicação antiga no Estado, a construção das ferrovias Leste-Oeste e Litorânea não é unanimidade. Há quem defenda que o transporte marítimo/fluvial de carga (também chamado de cabotagem) em SC seja uma alternativa economicamente mais viável e que o traçado da Leste-Oeste é acidentado demais para comportar uma ferrovia.
O economista Antônio Carlos Zapelini, estudioso na área de logística e transporte, lembra que a ideia de unir Florianópolis a Porto Alegre por trilhos é da época do Império e tem mais de 130 anos. Segundo ele, atualmente, a Ferrovia Litorânea não é a alternativa mais viável.
– A navegação de cabotagem é muito mais econômica para interligar os portos. Os dois projetos de ferrovias esbarram na inviabilidade da topografia acidentada do Estado e da alta densidade demográfica por onde passam os traçados, o que gera muito custo com desapropriações. A Litorânea ainda ficará espremida entre o mar e a BR-101. E a Leste-Oeste não deveria passar pelo Vale do Itajaí, muito populoso e acidentado, e sim aproveitar os trilhos já existentes no Planalto Norte – alega.
O presidente da Federação da Empresas Transportadoras de Cargas de SC (Fetrancesc), Pedro Lopes, diz que a preocupação do setor de transportes rodoviário é com o período até a construção efetiva da ferrovia.
Rodovias precisam de atenção até que trilhos fiquem prontos
– O setor não vê problema em dividir cargas, porque o transporte rodoviário será sempre necessário. Defendemos a integração modal, desde que haja planejamento rodoviário, porque temos que nos preocupar com as rodovias, com os acessos aos portos, e com o transporte hoje, até que as ferrovias existam.
Lopes também considera a Leste-Oeste mais urgente do que a Litorânea, exatamente porque a navegação de cabotagem já é operada em SC. Ele lembra que muitos ramais que foram desativados poderiam ser reativados, enquanto na Litorânea está tudo ainda por fazer.
Região Sul não é prioridade
A região Sul é a menos beneficiada com obras ferroviárias previstas no PAC. As prioridades são os projetos da Transnordestina (CE, PE e PI), com investimento de R$ 4,5 bilhões; na Ferrovia Leste-Oeste da Bahia, com aporte de R$ 8 bilhões; e a Norte-Sul, que vai rasgar o país do Maranhão a Goiás, para depois chegar ao Paraná, com recursos da ordem de R$ 8 bilhões.
A Ferrovia Litorânea, cujo investimento fica abaixo de R$ 1 bilhão, está em quarto lugar na lista de prioridades, conforme o diretor executivo da Associação Nacional de Transportes Ferroviários (ANTF), Rodrigo Vilaça.
– É verdade que os projetos são todos para a próxima década, mas são bastante promissores. Existem problemas burocráticos e até no ambiente político, com parlamentares querendo tirar os trilhos de dentro de suas cidades, mas precisamos desenvolver a logística de transporte do Brasil – afirma.
Concessionárias investiram R$ 30 bilhões em 12 anos
Nos últimos 12 anos, as concessionários de ferrovias do Brasil investiram R$ 30 bilhões, sendo R$ 20 bilhões em equipamentos e melhorias e R$ 10 bilhões em impostos.
– A contrapartida do governo não passou de R$ 900 milhões. Mas precisamos usar a palavra inutilizada do PAC, que é aceleração – diz Vilaça.
O custo por quilômetro de ferrovia é cerca de US$ 1 milhão. Neste contexto, o presidente da ANTF considera a Ferrovia Litorânea de baixa complexidade e custo, perto das demais em obras no país.
Ele destaca ainda que, uma vez o projeto pronto, abre-se a possibilidade da iniciativa privada investir.
Redução de custos é uma das vantagens
Com um crescimento anual de 3% nas cargas transportadas, as rodovias catarinenses não terão, em alguns anos, mais condições de atender esta demanda.
A afirmação é do presidente da Ferrovia Tereza Cristina (FTC), Benony Schmitz Filho, para quem a interligação com os portos por ferrovias seria a única solução possível para atender esta demanda.
– Entre as inúmeras vantagens estão a redução de manutenção nas rodovias, no consumo de combustíveis de, em média, 10 milhões de litros anuais, menos emissão de poluentes e de acidentes nas estradas.
Outros ganhos passam pela redução nos custos de transporte e logística, maior arrecadação para o governo com a redução da evasão fiscal sobre as cargas transportadas e melhoria ambiental, com menos poluição, pelo baixo consumo de combustível.
A FTC será beneficiada pela sua ligação com a malha ferroviária nacional. A maior parte do seu transporte é carvão, mas a empresa já iniciou a movimentação de cargas conteinerizadas para o Porto de Imbituba.
Fonte: Diário Catarinense