Ferrovia Catarinense completa 130 anos de história
Desenvolvimento pelos trilhos
Junto com o primeiro apito da Maria-Fumaça, pertencente a The Donna Thereza Christina Railway Company Limited, em 1º de setembro de 1884, toda região sul de Santa Catarina começou a trilhar os caminhos do desenvolvimento. A inauguração da Estrada de Ferro aconteceu em Tubarão e o nome, Tereza Cristina, foi uma homenagem à esposa do então imperador D. Pedro II.
Em seu início, com a exploração do carvão mineral na região de Lauro Müller, era necessário um meio de transporte para escoar o minério das carboníferas do Sul de Santa Catarina até o Porto de Imbituba. A construção iniciou em 1880, pela empresa James Perry Co, por meio do visionário Visconde de Barbacena, que após muitos estudos resolveu colocar em prática seu projeto. O investimento era inglês, mas a mão de obra empregada, era em sua maioria, de imigrantes italianos, que aportaram na região alguns anos antes. Começava aí uma grande história, que também enfrentou períodos difíceis.
O primeiro trecho de trilhos foi utilizado no mesmo ano da inauguração da Ferrovia, porém não demorou muito para os ingleses perceberem que o carvão não serviria para ser exportado, a qualidade não era boa para os fins comerciais desejados. Era o início das muitas dificuldades que a Ferrovia sofreria. Mesmo assim, insistia em transportar o carvão. Por quase quatro décadas, o transporte de passageiros, animais e mercadorias foi a única fonte de renda da Ferrovia.
Luz no fim do túnel
Em 1895, o governo de Prudente de Morais isentou de impostos a importação de máquinas e equipamentos às empresas que quisessem investir na exploração do carvão mineral. O objetivo era acabar com as dificuldades financeiras em que se encontrava a Estrada de Ferro Dona Thereza Christina (EFDTC).
A partir de 1914, o carvão catarinense começa a ter uma nova utilidade. E foi o engenheiro catarinense Polydoro O. Santiago que iniciou uma campanha para promover o minério da região, enviando amostras do produto ao Centro Catarinense para serem testadas e divulgadas, inclusive em estabelecimentos comerciais. O Centro Catarinense era o órgão que representava os interesses do Estado na capital da República – na época o Rio de Janeiro. Em 1915, 100 toneladas de carvão catarinense já haviam passado por testes de qualidade.
Diante da escassez de carvão importado, em decorrência da Segunda Guerra Mundial, o carvão de Santa Catarina começava a trazer bons resultados. O carvão das minas de Urussanga já acumulava experiências bem sucedidas como combustível de navios e locomotivas. Era o começo de uma nova era à EFDTC, que finalmente começava a transportar o minério até o Lavador de Capivari e depois ao Porto de Imbituba.
Os 118 quilômetros de via férrea iniciais de Imbituba a Lauro Müller tiveram que ser ampliados, construindo-se ramais que ligassem a Ferrovia às novas jazidas de carvão recém descobertas. Hoje, 130 anos depois, completados nesta segunda-feira (01/09), a EFDTC possui 164 quilômetros de linha férrea que cortam 14 municípios catarinenses: Imbituba, Laguna, Pescaria Brava, Capivari de Baixo, Tubarão, Sangão, Jaguaruna, Içara, Criciúma, Siderópolis, Morro da Fumaça, Cocal do Sul, Urussanga e Forquilhinha.
A alternância do poder na Ferrovia
Desde sua construção até 1940, a Ferrovia esteve sob concessão federal, permitindo que o capital privado – nacional ou estrangeiro – alternadamente administrasse a empresa. Em 1957, a estrada de ferro foi incorporada à Rede Ferroviária Federal S/A, passando, a partir de 1965 a atender as necessidades de abastecimento do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo/SC. Desde 1º de fevereiro de 1997, a Ferrovia encontra-se novamente sob administração privada, pela Concessionária Ferrovia Tereza Cristina S/A.
A origem do Bairro Oficinas em Tubarão
Mesmo passando por vários problemas em seu início, a Ferrovia, uma das mais antigas do país, foi e continua sendo um importante fator de desenvolvimento econômico e social da região Sul Catarinense. São tantos feitos, que sua história esbarra em muitas outras da região. Um bom exemplo é a expansão do bairro Oficinas, em Tubarão, que se deu, somente, pela implantação da estrutura da Ferrovia na Cidade Azul, em 1906.
Quando os ingleses implantaram a ferrovia construíram em Imbituba as oficinas para manutenção das locomotivas e dos vagões. Na lembrança histórica do ferroviário e Gerente Comercial da FTC, Carlos Augusto Menezes, a transferência das oficinas à Cidade Azul foi necessária, pois a locomotiva a vapor precisava de manutenções frequentes que não deveriam esperar até o final da viagem. “Tubarão ficava no meio do caminho, então foi construído o Pátio da Oficina Central. A partir de então começou-se a desenvolver o bairro de Oficinas ”, lembra.
Menezes conta que os passageiros que chegavam nas cidades eram tratados como ilustres. “Todos iam ver quem estava chegando de Trem”, salienta o gerente que tem 30 anos de Ferrovia. “Quando alguém casava, os noivos pegavam o trem e iam passar a lua-de-mel em Laguna. Eram cenas corriqueiras daquela época”.
Personalidades da História
Já são 35 anos de Ferrovia. Quando começou a trabalhar neste setor, em 1979, o senhor Sílvio Luiz de Souza, que hoje é presidente da Associação dos Ferroviários, atuou como auxiliar de maquinista, função que ficou por seis anos. Depois exerceu a função de maquinista, por 14 anos, na sequência atuou por quatro anos na Oficina de Locomotivas, onde continua até hoje, porém executando serviços terceirizados, como pintura, solda, etc.
Silvio tem muitas histórias para contar, umas boas, outras nem tanto, mas como o próprio afirma “todas válidas”. Na memória do ferroviário, um fato triste foi o acidente da locomotiva, na década de 80. “Uma explosão que resultou na morte de três pessoas”, lembra. “A Ferrovia sempre teve preocupação com a segurança, saúde e modernização, mas depois desse acidente, houve uma intensificação. Começamos a usar locomotivas a Diesel”, relata.
Com a aposentadoria, Silvio não sabia o que fazer. “Ficar em casa estava fora dos planos. Foi quando me chamaram para voltar. A Ferrovia é parte da minha vida, da minha história. Ninguém perdura por 35 anos numa empresa se não se sente feliz e realizado”, comemora o ferroviário que ‘coleciona’ bons amigos nessa trajetória.
Quando se fala em Ferrovia Tereza Cristina, uma das maiores personalidades que vem à memória é o médico ferroviário, por 21 anos, e historiador Dr. José Warmuth Teixeira. Além de ser um dos coordenadores do Museu Ferroviário, Warmuth acompanhou diversas ascensões da empresa e se orgulha de ter diversas histórias para contar.
No período em que trabalhou na Rede Ferroviária, vivenciou uma evolução avassaladora nos progressos da medicina. “Paralelo ao meu trabalho, eu era anestesista. Observei uma mudança (evolução e modernização) muito importante, isto passou a refletir no trabalho da empresa. Tudo que acompanhava de evolução, no que diz respeito a equipamentos, técnicas cirúrgicas, aparecimento de exames de imagens muito importantes como, tomografia e a ressonância magnética, a empresa viu como importante e empregou à minha rotina”.
“Na área da medicina, a Ferrovia sempre buscou se atualizar e trazer a evolução dos equipamentos. Durante meu trabalho como médico ia prescrevendo e usando os novos recursos da medicina. Como reflexo, houve uma significativa melhora, a evolução gerou um acréscimo de recursos, que consequentemente influenciou na saúde dos ferroviários, gerando mais qualidade de vida”, destaca.
Entre os fatos que mais marcaram a vida do ferroviário, ainda na empresa, foi a enchente de 1974. “Depois que a água baixou, estive no consultório e fiquei surpreso, a mesa estava intacta. Mas quando abri a gaveta, só o que via era barro”, recorda o médico que defende a importância de se preservar a Memória Ferroviária. “Integramos uma história linda, o progresso tem que somar e não anular o que construímos com tanto esmero”, completa.
FTC trilha novos caminhos
A prática dos valores corporativos reforça o compromisso com a sustentabilidade. A Ferrovia Tereza Cristina S/A (FTC), após 17 anos de concessão, superou 45 milhões de toneladas de cargas transportadas, promoveu uma série de melhorias e aprimorou a operação, investindo mais de R$ 51 milhões. Neste período, a Ferrovia de história centenária trouxe fôlego extra às indústrias da região Sul Catarinense, que exportam pelo Porto de Imbituba.
O transporte de carga continua sendo o principal atrativo da malha ferroviária. O desenvolvimento econômico da região está diretamente ligado aos trilhos. E, se o carvão não era bom para a exportação, foi de muita serventia às cidades dessa região. Todos os meses mais de 300 mil toneladas de carvão são transportadas até o Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Capivari de Baixo e mais de 350 contêineres carregados de carga geral com destino ao Porto de Imbituba. A carga que sai do cliente viaja uma distância média de 75 km, para o carvão. Um caminho livre de congestionamentos. São transportadas diariamente cerca de 12 mil toneladas.
Além de favorecer o desenvolvimento e a logística do Sul de Santa Catarina, a FTC contribui fortemente à economia fiscal do país, estado e município. Nesses 17 anos de administração privada, a Ferrovia recolheu aos cofres públicos mais de R$ 127,2 milhões a título de concessão, arrendamento e tributos.
A ação da FTC é sustentada pelo Sistema de Gestão Corporativo (SGC), que agrega as certificações ISO 9001, gestão da qualidade, ISO 14001, gestão ambiental, e OHSAS 18001, gestão da segurança e saúde ocupacional, que reforçam o compromisso com a satisfação de clientes e acionistas, colaboradores, comunidade e a preservação do meio ambiente.
Novos Projetos
A principal expectativa da FTC é a implantação dos projetos Ferrovia Litorânea e Ferrovia Leste-Oeste, que além de integrá-la à malha ferroviária nacional, se constituirão em importantes corredores de cargas, ao permitir ampliar o acesso ferroviário aos portos e ao extremo Oeste de Santa Catarina, contribuindo, significativamente, para o desenvolvimento do Estado. Essa ampliação proporcionará o transporte de muitos outros produtos como cerâmica, granéis agrícolas e minerais, fertilizantes, metalúrgicos e siderúrgicos, produtos frigorificados, madeiras e derivados, carga geral e contêineres. Produtos de extrema importância para a região de atuação, o país e o mundo.
Estrutura Operacional
164 km de linha férrea
13 locomotivas
466 vagões
Monitoramento da frota via satélite
Oficinas de manutenção de locomotivas, vagões e via férrea
Acesso ao Porto de Imbituba
Controle operacional, administração e Sistema de Ocorrências Ferroviárias, informatizados
Vantagens do Transporte Ferroviário
Preços competitivos
Segurança
Confiabilidade
Pontualidade
Economia de Combustível
Baixo impacto sobre o meio ambiente
Fonte: Comunicação FTC