Transporte de cargas por ferrovias vive o melhor momento em décadas
O maior volume de investimentos desde as privatizações de meados dos anos 1990 leva os trilhos a projetar um salto na participação do modal brasileiro, de 21% para 30%
Entre janeiro e junho de 2021, a produção ferroviária apresentou uma expansão de 9,6% em relação ao mesmo período de 2020
Nos últimos meses, ao assinar a renovação antecipada de concessões ferroviárias da Malha Paulista e das estradas de ferro Vitória-Minas e Carajás, o governo federal sinalizou sua disposição para garantir que o transporte de cargas por trilhos dê um largo salto no Brasil.
A estratégia de adiantar a renovação dos contratos foi anunciada em junho de 2015 e consolidada nos governos e anos seguintes com a aprovação da Lei 13.448 pelo Congresso, em 2018. Com isso, as empresas que conquistaram suas concessões durante o processo de privatização, iniciado a partir de 1996, não precisaram esperar até o final desta década para projetar investimentos de longo prazo.
“Serão mais de R$ 30 bilhões, apenas nos primeiros anos dos novos contratos, desembolsados pelas associadas da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). Esses recursos se desdobrarão na redução de conflitos urbanos e numa expansão substantiva da capacidade da malha, para atender as atuais e futuras demandas”, afirma Fernando Paes, diretor-executivo da ANTF.
Se atualmente as ferrovias respondem por 21% do modal de transportes do Brasil, parece realista acreditar que será cumprida a meta do Plano Nacional de Logística, que prevê que a participação chegue a 30%.
Novas obras
“Mesmo em
meio à pandemia, o setor ferroviário de cargas brasileiro vive o seu melhor
momento nas últimas três décadas. Desde a desestatização do
setor, na segunda metade dos anos 1990, não vemos um volume tão grande de
investimentos, tanto contratados quanto realizados”, avalia Paes.
“Os projetos que estavam previstos já há alguns anos começaram a sair do papel, estão em pleno curso, ganhando corpo e velocidade”, prossegue ele. Entre as novas obras, cruciais para levar eficiência para regiões estratégicas do país, destaca-se o trecho da Ferrovia Norte-Sul entre Porto Nacional/TO e Estrela D’Oeste/SP, já em operação, a construção da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico) e a conclusão da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
Com o modelo de investimentos cruzados, o país caminha para solucionar uma série de gargalos logísticos, utilizando um modal que gera emprego e renda e ativa a indústria nacional, com eficiência e menor emissão de gases causadores de efeito estufa, na comparação com os veículos automotivos.
“As ferrovias são importantes indutoras de desenvolvimento, inclusive industrial, com geração de emprego e renda. Os investimentos permitem ao país transportar cargas de forma muito mais eficiente, especialmente commodities e produtos industriais, que compõem grande parte das exportações brasileiras”, afirma o diretor-executivo da ANTF. “Como resultado, o setor contribui para a redução do Custo Brasil”.
Crescimento
Passam pelas ferrovias de carga brasileiras commodities agrícolas e minerais, que são exportadas para o mundo inteiro. E também produtos de primeira necessidade, de higiene e limpeza, além de industrializados. A lista é extensa e inclui de ovos e açúcar a peças automotivas, passando por carnes, bebidas, brinquedos, eletroeletrônicos e eletrodomésticos.
Desde o início do processo de privatização, as ferrovias de cargas saltaram de 253 milhões de toneladas úteis, em 1997, para 489 milhões, em 2020. Entre janeiro e junho de 2021, a produção ferroviária apresentou uma expansão de 9,6% em relação ao mesmo período de 2020, de 161,68 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) para 177,21 bilhões de TKU. O crescimento acumulado do transporte de carga geral no primeiro semestre deste ano foi de 6,98%, de 55,44 bilhões de TKU, contra os 51,62 bilhões de TKU de 2020.
Em 1997, as ferrovias nacionais contavam com 1.154 locomotivas. Em 2020, somavam 3.298 unidades, um aumento de 186%. No mesmo período, o número de vagões passou de 43.816 para 116.435 – alta de 166%. E há espaço para crescer muito mais.
“Há muita carga no país com vocação natural para ser transportada por trens, mas que continua a ser escoada por meios menos eficientes. Isso por si só já justificaria o esforço pela necessária expansão do transporte por trilhos”, conclui Fernando Paes.
Fonte: ANTF / Valor