Ferrovias: empresas disputam com projetos de trajeto idêntico
Duas importantes empresas do setor ferroviário, a Rumo e a
VLI Multimodal, devem enfrentar uma disputa comercial intensa para tirar do
papel dois projetos ferroviários, em princípio idênticos, autorizados pelo
governo federal. As duas companhias assinaram contratos com o Ministério da
Infraestrutura para construir ferrovias privadas ligando Água Boa (MT) a Lucas
do Rio Verde (MT) e Uberlândia (MG) a Chaveslândia (MG).
Dentro do segmento, há dúvidas sobre quem de fato irá tocar
as obras – e se há possibilidade de as duas operadoras construírem traçados
paralelos. No governo, a avaliação é a de que a solução será estritamente de
mercado. Ou seja, uma corrida pelos projetos definirá o futuro dessas
ferrovias. A competição é possível em razão do novo modelo de operação de
ferrovias, pelo qual trilhos são construídos exclusivamente pelo interesse
privado.
Pedidos para ferrovias
Desde que o novo formato foi lançado, em agosto do ano
passado, mais de 70 pedidos de autorização foram apresentados. Desses, 21 já
passaram da fase de assinatura de contrato com o Ministério da Infraestrutura.
É o caso da Rumo e da VLI, autorizadas pela pasta a construir, cada uma, dois
trechos ferroviários ligando os mesmos destinos e origem.
O interesse de duas gigantes do setor em construírem as
mesmas ferrovias tem como pano de fundo as importantes ligações que esses
trechos desenvolverão na malha ferroviária brasileira, em especial para o
escoamento do agronegócio em Mato Grosso e Goiás, além da produção mineira. A
ligação entre Água Boa e Lucas do Rio Verde, por exemplo, vai conectar-se com a
primeira parte da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), cujas obras
foram iniciadas no ano passado. Já a Fico vai ligar Mara Rosa, no norte de
Goiás, a Água Boa. O trecho é importante pela conexão com a Ferrovia Norte-Sul
(FNS), espinha dorsal da malha ferroviária brasileira.
No Ministério da Infraestrutura, a opção foi por deixar que
as próprias companhias resolvam a disputa. O entendimento é de que, por ser um
regime privado, não é papel do governo estipular critérios. “Não é um problema
do estado, é uma questão comercial”, afirmou o secretário Nacional de
Transportes Terrestres do Ministério da Infraestrutura, Marcello Costa Vieira.
A VLI e a Rumo se manifestaram por nota. A Rumo afirmou que
em ambos os projetos a empresa tem como objetivo aumentar a capacidade do
atendimento ferroviário a regiões que se conectarão estrategicamente ao Porto
de Santos (SP).
Concessionária da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA), que passa pelo Distrito Federal e sete estados, a VLI declarou que os projetos permitem à companhia acessar mercados ainda não plenamente atendidos e outros que se conectam às malhas das concessões da FCA e da Ferrovia Norte-Sul (FNS), no tramo Norte.